Nos últimos cinco anos, eu tive o privilégio de trabalhar com todos os dez maiores distribuidores de food service do Brasil. Foram dezenas de projetos, centenas de reuniões e milhares de conversas com diretores, vendedores, clientes e operadores de todo o país.
E depois de tanto tempo observando o mercado de dentro, cheguei a uma conclusão clara:
está cada vez mais difícil para os distribuidores mostrarem um diferencial competitivo que seja realmente percebido pelo cliente.
Os produtos mudam, as marcas variam, mas o discurso é o mesmo.
A guerra dos 3 Ps: Preço, Produto e Prazo
Quando pergunto a qualquer distribuidor como está o mercado, a resposta quase sempre vem automática: “Jean, aqui o jogo é no preço”.
Mas a verdade é que esse jogo já não diferencia ninguém. Hoje, todos competem nos 3 Ps: preço, produto e prazo.
E essa disputa virou um beco sem saída. O preço, o produto e o prazo não são diferenciais, são o básico. Eles são o ingresso para participar do jogo, não a estratégia para vencê-lo.
O custo elevado de competir onde todo mundo compete
Competir em preço é uma armadilha de curto prazo. Você pode até ganhar a venda, mas perde margem, perde fôlego e perde identidade.
Margem comprimida → menos estrutura → menos serviço → menos fidelidade
E o ciclo recomeça. Distribuidor que vive nesse ciclo cresce em faturamento, mas encolhe em lucro. E o mais grave: vira invisível aos olhos do cliente.
Por que os clientes só falam de preço
Por mais que os clientes do food service pareçam negociar só produto, preço e prazo, isso não é porque são obcecados por desconto. É porque eles não conhecem outros diferenciais.
E quem é o responsável por isso?
Nós mesmos. Nossas equipes de vendas e nossas marcas institucionais nunca ensinaram o mercado a valorizar outras vantagens. Nunca mostramos que o distribuidor pode ser especialista, parceiro, consultor. Então é natural que o cliente só enxergue valor nos 3 Ps.
Mas quando ele começa a perceber outros tipos de valor — curadoria, conveniência, relacionamento, marcas fortes, apoio técnico — tudo muda. Ele passa a comprar não só o produto, mas a segurança de estar com quem entende o negócio dele.
O que realmente diferencia um distribuidor
Depois de analisar dezenas de distribuidores em todo o país, eu e minha equipe da J.Pontara Consultoria estruturamos um modelo que chamamos de Matriz de Diferenciação do Distribuidor — um mapa com 12 eixos concretos de diferenciação, todos perceptíveis pelo cliente final.
Sem entregar tudo (porque cada empresa precisa encontrar o seu próprio caminho), compartilho aqui alguns exemplos:
1. Confiabilidade Operacional
- Mais do que rapidez, o cliente quer certeza.
- Entrega no dia certo, na hora certa e com o produto certo.
- “O melhor distribuidor é aquele que me deixa dormir tranquilo.”
2. Conveniência de Compra
- Tempo é o ativo mais valioso do operador.
- Pedido fácil, histórico automático, atendimento direto e sem atrito = fidelidade.
- “Quem simplifica minha compra, simplifica minha vida.”
3. Curadoria de Portfólio e Marcas Relevantes
- Não adianta ter todos os produtos da pizzaria se não tiver as marcas certas.
- Marcas que o cliente conhece, respeita e confia.
- Ter o produto é fácil. Ter a marca certa é o que diferencia.
4. Atendimento Consultivo
- O vendedor que entende o cardápio, o custo por porção e a margem do cliente vira parceiro — não fornecedor.
- “Quem me ajuda a vender, não precisa me dar desconto.”
5. Apoio Técnico e Aplicacional
- Técnicos de panificação, confeitaria, gastronomia e bebidas que ensinam, demonstram e inspiram.
- “Eles não vendem produtos, vendem soluções que funcionam.”
6. Relacionamento e Proximidade
- Presença humana, empatia e rapidez na resolução de problemas.
- “Eles estão sempre por perto, e isso faz diferença.”
7. Transparência e Confiança
- Dizer o que tem, o que não tem e quando vai chegar.
- “Prometer menos e entregar mais ainda é o melhor marketing.”
8. Reconhecimento e Valorização
- Programas de fidelidade, convites, presentes e ações simbólicas.
- “Eu compro deles porque eles lembram de mim.”
9. Educação e Inspiração
- Eventos técnicos, workshops e tours sazonais como o PanetoneTour e o ChocoTour.
- “Eles me ensinam a melhorar e me mantêm atualizado.”
10. Comunicação e Posicionamento de Marca
- Não basta ser especialista — é preciso parecer especialista.
- A identidade visual, a linguagem e o conteúdo precisam transpirar food service.
- “Eles têm cara, voz e postura de quem entende o meu mundo.”
11. Sustentabilidade e Responsabilidade
- Empresas com propósito claro e ações reais inspiram confiança.
- “Eles não falam de futuro — eles praticam o futuro.”
12. Política Comercial Justa e Inteligente
- Condições coerentes, previsíveis e transparentes.
- “Ser justo é mais valioso que ser barato.”
O verdadeiro diferencial é ser percebido como indispensável
Diferencial não é o que você diz, é o que o cliente sente. E o cliente só sente valor quando ele percebe que você resolve problemas reais da operação dele.
No fim do dia, o operador não quer o mais barato, ele quer o mais confiável. Ele quer comprar de quem o ajuda a vender mais, a errar menos e a dormir em paz.
O que vem pela frente
Nos próximos anos, veremos uma separação clara entre dois tipos de distribuidores:
- Os que continuam brigando nos 3 P’s e vão competir por centavos.
- E os que constroem valor real — e passam a competir por relevância.
A pergunta não é se o distribuidor precisa se diferenciar. A pergunta é quando ele vai começar a identificar, construir e fortalecer seus diferenciais competitivos.
Se você sente que está vivendo a guerra dos 3 Ps (Preço, Produto e Prazo) talvez seja hora de mudar o tabuleiro.


Deixe um feedback sobre isso