A geração Z está transformando o mercado de bebidas. Dados recentes mostram que quase metade dos brasileiros entre 18 e 24 anos não consome bebidas alcoólicas. Essa mudança de comportamento, impulsionada por fatores como saúde, estética, redes sociais e novos hábitos sociais, tem pressionado fabricantes a repensarem seus portfólios.
Segundo levantamento do CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool), dois em cada dez jovens consomem álcool no máximo uma vez por mês — e quase metade não bebe nunca. O fenômeno é global. Nos Estados Unidos, a pesquisa da Gallup identificou que 38% dos jovens entre 18 e 34 anos não consomem bebidas alcoólicas, um salto de 10 pontos percentuais em uma década.
Na prática, o recuo do álcool tem movimentado todo o setor de bebidas. Entre 2018 e 2024, o consumo de cervejas zero álcool no Brasil saltou de 133 milhões para 752 milhões de litros, segundo a Euromonitor. A expectativa é que, até o fim de 2025, esse número se aproxime de 1 bilhão de litros.
Grandes marcas têm liderado esse movimento. A Ambev registrou crescimento de 20% no segmento de bebidas zero álcool em 2024, com destaque para a Corona Cero, cuja receita avançou 125% em um ano. A Heineken também viu sua versão 0.0 crescer 10% no mesmo período, superando o ritmo das cervejas tradicionais.
Mas não são apenas as gigantes que estão atentas. Cervejarias artesanais e concursos internacionais também vêm ampliando suas categorias para rótulos sem álcool. Para Rodrigo Sawamura, gerente de cultura cervejeira da Estrella Galicia, a tendência é de crescimento contínuo, com foco em sabor, origem e autenticidade.
A indústria do vinho adota estratégias diferentes. Em vez de lançar produtos sem álcool, marcas como a Miolo apostam em vinhos com baixa intervenção e teor alcoólico reduzido. Já o Grupo Wine aposta no posicionamento do vinho como bebida de consumo moderado, alinhado ao estilo de vida mais consciente que atrai os jovens consumidores.
No segmento de destilados, os mocktails — drinks sem álcool — ganham espaço em bares e restaurantes. De acordo com a Datassential, a presença desses drinks nos cardápios cresceu 223% em 2024. A Diageo, por exemplo, já lançou versões 0.0% do gin Tanqueray em diversos mercados internacionais.
Além da saúde, um dos motivos para a queda do consumo entre jovens é o medo da exposição nas redes sociais. As chamadas “coffee parties”, baladas regadas a cafeína e realizadas de dia, são um reflexo desse novo comportamento.
A mudança no perfil de consumo exige que a indústria se antecipe e desenvolva produtos que ofereçam bem-estar, conexão e identidade. Para a geração Z, menos é mais — desde que haja propósito.
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