Alimento Informativo

Nutrição de precisão: o que é, como funciona e as transformações na indústria de alimentos

A nutrição de precisão aparece nas discussões acadêmicas e de mercado como um campo emergente que une genômica, epigenética, ciência de dados e dispositivos inteligentes para redefinir a alimentação humana em um cenário de aumento das doenças relacionadas à alimentação e escassez de nutrientes dado o aumento da demanda. A proposta da nutrição de precisão é simples, mas pode ser transformadora: em vez de dietas universais, nutrição sob medida, baseada em informações biológicas e comportamentais em tempo real.

Durante o Summit Future of Nutrition, congresso da Food Ingredients South America – FiSA 2025, Hisanori Kato, professor da Kagawa Nutrition University no Japão e um dos maiores especialistas em nutrição de precisão do mundo, avalia que o alimento deve seguir a tendência de deixar de ser genérico e passar a responder a cada corpo, a cada DNA e até mesmo ao humor de cada indivíduo.

O que é nutrição de precisão?

A nutrição de precisão é uma abordagem que leva em consideração as características genéticas, metabólicas, microbiológicas e comportamentais de cada indivíduo para definir a melhor estratégia alimentar. Ou seja, vai muito além das recomendações genéricas de “comer mais vegetais” ou “reduzir o açúcar”. Ela busca entender como cada corpo responde aos alimentos, com base em fatores como DNA, microbiota intestinal, estilo de vida e até histórico familiar de doenças.

Essa revolução no campo nutricional tem raízes em avanços científicos das últimas décadas, como os estudos em nutrigenômica — área que investiga como os nutrientes interagem com os genes — e em epigenética, que analisa como o ambiente e a alimentação podem ativar ou desativar genes ao longo da vida.

Por que a nutrição de precisão é relevante?

Ao oferecer intervenções personalizadas, a nutrição de precisão pode ser uma aliada poderosa no combate às doenças crônicas, como obesidade, diabetes e hipertensão, além de promover longevidade com qualidade de vida. Não por acaso, o Japão — país do professor Kato e uma das nações com maior expectativa de vida no mundo — tornou-se referência em estudos que relacionam genética, alimentação e saúde pública.

Com um histórico de mais de 150 artigos científicos publicados e ampla atuação em universidades e sociedades científicas asiáticas, Hisanori Kato trouxe à Fi South America 2025 um olhar científico e prático sobre como a nutrição personalizada pode ser implementada em larga escala, respeitando as particularidades culturais, econômicas e genéticas das populações.

8 transformações causadas pela nutrição de precisão

No Summit Future of Nutrition, congresso da FiSA, o professor japonês Hisanori Kato abordou o tema “Nutrição de Precisão: Estratégias Atuais, Fronteiras Futuras”, trazendo cases de pesquisa e aplicação prática da ciência nutrigenômica. A palestra para profissionais da indústria de alimentos e bebidas, pesquisadores, nutricionistas e formuladores de políticas públicas mostrou os caminhos possíveis para aplicar esse conhecimento em produtos, programas de saúde e inovações tecnológicas.

Para a indústria de alimentos, isso representa uma mudança estrutural. Os produtos poderão ser formulados não apenas para o consumidor médio, mas para perfis fisiológicos e genéticos específicos. A seguir, veja os principais insights da palestra de Kato, e o que eles significam para o futuro do setor.

1. Alimentação personalizada ganhará nova camada de precisão

A nutrição de precisão ultrapassa o conceito tradicional de personalização. Além de considerar idade, gênero e histórico clínico, ela incorpora condições momentâneas, com destaque para sono, estresse, microbiota, hormônios e até estado mental. Isso permite que alimentos e suplementos sejam ajustados às necessidades imediatas do organismo, tornando o ato de comer algo dinâmico, contextual e cientificamente calibrado.

2. O genoma poderá prever preferências e respostas alimentares

Com base em um estudo com 30 milhões de japoneses e a análise de 700 mil variações genéticas (SNPs), Kato demonstrou que o DNA influencia desde a preferência por café ou peixe até a sensibilidade ao álcool. Um dos achados mais emblemáticos é o polimorfismo RS671, presente em populações asiáticas, que altera o metabolismo do álcool e afeta o gosto por bebidas e alimentos específicos. Kato é categórico: o genoma, portanto, molda o paladar.

3. A eficácia de alimentos funcionais dependerá da genética

Em parceria com a Ron Corporation, Kato testou a lactoferrina, proteína do leite com efeitos antioxidantes, antiobesidade e imunológicos. Em 12 semanas, parte dos voluntários reduziu gordura visceral e IMC, mas os resultados variaram. A explicação estava nos genes. A equipe desenvolveu uma equação genética preditiva com 92% de precisão para estimar quem responderia melhor ao suplemento. É o início dos alimentos funcionais personalizados.

4. A epigenética liga a alimentação de hoje à saúde das próximas gerações

O professor explicou que o que comemos hoje afeta o DNA das gerações futuras. Em estudos com ratos, fêmeas com dieta pobre em proteína durante a gestação geraram descendentes com pressão alta e maior risco de AVC, efeitos que persistiram até os netos. O fenômeno, conhecido como programação nutricional, mostra que nutrição e epigenética estão intimamente ligadas, reforçando o papel estratégico da alimentação preventiva.

5. O registro preciso da dieta é o elo perdido

Apesar de avanços em dispositivos utilizados para captar e armazenar informações, Kato observa que a coleta de dados alimentares ainda é falha. O desafio está em medir, com exatidão, o que as pessoas realmente consomem. Startups e empresas de tecnologia já desenvolvem aplicativos que simplificam o monitoramento alimentar — um passo crucial para conectar ciência, consumo e personalização real.

6. Big Data e bioinformática serão os motores do novo mercado

A nutrição de precisão exige grandes volumes de dados interconectados genéticos, metabólicos, clínicos e comportamentais. Isso abre espaço para alianças entre indústria alimentícia, universidades e empresas de tecnologia, impulsionando o uso de inteligência artificial para criar bancos de dados nutricionais e recomendações automatizadas. A fronteira entre o alimento e o software tende a desaparecer.

7. Produtos poderão ser formulados conforme DNA e estilo de vida

Com base em dados genéticos, fisiológicos e de rotina, as empresas poderão criar alimentos de resposta rápida, ajustados a momentos específicos: melhorar o sono, reduzir o estresse, fortalecer o sistema imune ou otimizar a performance física. É o surgimento de um novo segmento que está sendo chamado de “alimentos de precisão”, que apostam na combinação entre funcionalidade e sabor.

8. Educação e comportamento serão tão decisivos quanto a tecnologia

Para Kato, a tecnologia por si só não basta. A adesão à nutrição de precisão depende de educação alimentar e mudança comportamental. Ferramentas digitais podem oferecer dados, mas é o engajamento do consumidor que transforma informação em hábito. A nova fronteira da nutrição é, ao mesmo tempo, científica e cultural.

Deixe um feedback sobre isso

  • Quality
  • Price
  • Service

PROS

+
Adicionar campo

CONS

+
Adicionar campo
Escolha a imagem
Escolha um Video
X